Leia: Mc 8, 14-21 - “Tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis?”

Na pequenez da levedura reside uma capacidade desconcertante de tudo transformar à sua volta; mas essa mudança pode servir para melhorar ou para piorar. Todos nós possuímos esta ambivalência, que nos permite ajudar e fazer emergir a melhor versão dos outros, ou, ao invés, o contrário disso. Se entrarmos em contato com a parte tóxica de nós mesmos, que procuramos esconder, talvez possamos sintonizar com a advertência de Jesus.

Esforcemo-nos por nos preservar e proteger daquilo que,

por mais insignificante que possa parecer,

não nos ajuda a crescer,

como acontecia com o fermento dos fariseus e de Herodes.

Leia: Mc 8, 11-13 - “Porque pede esta geração um sinal?”

É coisa que não podemos evitar: gostar de tudo o que nos desperta a atenção. Uma coisa atraente, extraordinária e fora do comum atrai-nos como um íman, enquanto o que, por definição, é discreto escapa à nossa observação e passa despercebido. O paradoxo é que, aos olhos  dos crentes, o modo de agir de Deus é geralmente sóbrio e permanece quase oculto e difuso nas coisas vulgares. Mesmo os contemporâneos de Jesus não escaparam a esta dificuldade, que temos, de reconhecer a Boa Nova do Reino, quando ela é anunciada através da vida e das obras deste modesto galileu.

Senhor,

dá-nos a lucidez de não precisarmos de sinais

e de descobrir o extraordinário

no coração do ordinário e de tudo o que é simples.

Leia: Mc 1, 40-45 - “Não digas nada a ninguém.”

Há passagens no Evangelho, como esta, que nos deixam perplexos. Neste caso, não sabemos o que pensar do leproso. Embora se aproxime de Jesus, com uma confiança admirável, não cumpre a ordem expressa de não relatar o que lhe aconteceu. Por outro lado, o facto de ficar calado sobre o modo e por quem foi curado facilita a passagem da curiosidade à fé em Jesus, naqueles que o escutam. Por outro lado, o texto evidencia uma caraterística de quem experimentou a ação do Senhor na sua vida: é difícil guardá-la só para si, e não a partilhar com os outros. Que o nosso testemunho não dificulte o encontro dos outros com Aquele que nos salvou!

Obrigado, Senhor,

pela vossa misericórdia,

pois não tendes relutância em tocar na minha lepra.

Ajudai-me também a ser sempre compassivo!

Leia: Mc 8, 1-10 - “Tenho pena desta multidão; há já três dias que estão comigo e não têm que comer.”

O ser humano possui uma capacidade enorme de despojar as palavras da sua densidade de significado. Falar de compaixão, por exemplo, nada tem a ver com sentimentalismo, mas com a aptidão de sofrer com e ao lado daqueles que nos rodeiam, o que nos leva sempre a empreender mudanças. O Evangelho diz que Jesus sentiu compaixão, que soube sintonizar com os que O seguiam e velar pelas suas necessidades. A transformação da realidade não nasce da indiferença, mas da compaixão que nos põe em movimento e nos faz questionar: quantos pães temos para repartir?

Jesus,

ajuda-me a não ser indiferente

àqueles que me rodeia e às suas necessidades.

Leia: Mc 7, 31-37 - “Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem.”

Ser surdo e não se poder exprimir excede em muito uma simples dificuldade física, porque o ser humano é uma história inacabada. Desenvolvemo-nos como pessoas, na medida em que colocamos palavras naquilo que vivemos, porque é assim que reconhecemos o que vagueia no nosso interior, e que damos sentido ao que nos acontece. Aproximar-nos de Jesus Cristo, deixando que Ele adorne a nossa existência, é dar-Lhe permissão para que desate a nossa língua, aqueça o nosso coração  e desbloqueie os ouvidos, a fim de que os outros irmãos possam partilhar connosco as suas histórias pessoais e a sua vida.

Que nunca deixemos de acreditar e confiar

de que tudo o que Jesus faz é admirável

e nos entreguemos a Ele sem reservas.

Leia: Mc 7, 24-30 - “Senhor, também é verdade que os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças.”

O que uns desprezam, outros valorizam. Enquanto muitos judeus, membros do povo eleito e conhecedores das promessas de Deus, desprezaram Jesus Cristo e o anúncio do seu Reino, esta mulher pagã não tem qualquer pejo em reconhecer que os primeiros destinatários da Boa Nova são os filhos de Israel, embora insista em arrancar de Jesus algo que os outros não apreciam, essas “migalhas” que caem da mesa. A fé manifesta-se também na insistência e no facto de não se deixar derrotar pelas aparentes dificuldades.

Sejamos também nós

capazes de imitar esta mulher

e insistir com igual confiança

quando nos dirigimos a Deus.

Leia: Jo 19, 28-37 - “…um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.”

A Samaritana vinha ao poço de Sicar, na Samaria , recolher água por volta do meio dia, porque tinha sede, mas não desejava cruzar-se  nem dar azo à crítica das mulheres do lugar, que não ignoravam  o tipo de vida que ela levava. Mas foi esta hora imprópria que a traiu e salvou. Jesus esperava-a e solicitou-lhe de beber, tocou-lhe o coração e fez-lhe descobrir que o poço de água viva estava instalado dentro dela. Deus tem saudade e morre de sede por cada um de nós.  Do seu peito aberto e amoroso, brotou a Igreja que todos constituímos, os sacramentos que a alimentam e santificam.

Saibamos, em cada dia,

aproveitar  a dádiva do Seu Corpo e Sangue

e agradecer a ternura infinita

de Quem foi trespassado por nós.

Leia: Mc 7, 1-13 - “Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens.”

Somos herdeiros de tradições que nos são transmitidas de geração em geração. Recebemos daqueles que nos antecederam costumes que, na sua origem, fazem sentido, mas que não estão isentos de serem questionados e avaliados, à luz de cada circunstância. Todos nós temos também os nossos hábitos e rotinas pessoais, que muitas vezes consideramos inamovíveis. Jesus, através das palavras de Isaías, faculta-nos um critério para discernir, em cada momento, a validade das nossas decisões: o nosso coração aproxima-nos de Deus?

Jesus,

dá-nos a sabedoria e a coragem de, em cada dia,

não atuar por hábito,

mas por aquilo que diz o coração, ao Teu ritmo.

Leia: Mc 6, 53-56 - “E todos os que O tocavam ficavam curados.”

Para além de nos bronzearmos, quando nos expomos ao sol, obtemos também a vitamina D, de que o organismo necessita. Só o contato os raios solares com a nossa pele gera esta substância, indispensável à nossa saúde. De acordo com esta passagem  evangélica, algo semelhante acontece com Jesus Cristo, pois o contato com as suas vestes irradia uma energia tal que curava os doentes, que se aglomeravam à sua volta.

Estejamos, também nós,

despertos para sentir em nós essa força que vem de Jesus

que é capaz de sarar as nossas “feridas”,

bastando apenas “tocar-Lhe”.

Leia: Mc 1, 29-39 - “Vamos a outro lugar, a fim de pregar também aí.”

Possuímos certa tendência para distinguir o urgente do importante, de modo que o primeiro ponto tende a substituir o segundo, para o qual nem sempre resta já tempo e forças. Para Jesus, ao invés, o Reino concentra todas as suas energias e torna-se o essencial e urgente. Isso é evidente nesta passagem do Evangelho, que sintetiza, em poucas linhas, a súmula da sua missão: curar os entrevados, libertar os que perderam a liberdade, reservar momentos propícios para a oração e sair a anunciar a Boa Nova, onde quer que ela falte. E se conseguíssemos, também nós, aliar o essencial ao urgente?

Ajudai-me, Senhor,

a não ficar prostrado no leito.

Estendei-me a vossa mão,

para que eu vá aonde me mandardes.

Leia: Mc 6, 30-34 - “Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor.”

Por vezes, somos mais exigentes com os outros do que connosco próprios. No caso de Jesus, passa-se exatamente o contrário. Perante os discípulos, que regressam após terem sido enviados a anunciar o Reino de Deus, o Mestre aconselha-lhes o repouso e a quietude, para assimilarem a experiência acumulada. Ele, por seu lado, não descansa e busca o bem dos que d’Ele se aproximam.

Jesus,

concede-me a sabedoria para articular as duas dinâmicas:

descansar, para continuar a ser incitado pela realidade,

e, ao mesmo tempo,

colocar-me ao serviço dos que caminham junto a mim.

Leia: Lc 2, 22-32 - “…porque os meus olhos viram a vossa salvação, que puseste ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.”

Na mentalidade bíblica, as primícias são os primeiros frutos de um campo, dos animais ou de um casamento. Ao oferecê-los a Deus, reconhecemos que são todos d’Ele e que Lhos devolvemos. Daí o costume de apresentar os primogénitos, agradecendo deste modo o dom dos filhos. Os pais de Jesus reconheceram também que o nascimento do Menino era um presente divino e, ao levá-lo ao Templo, muitos outros beneficiaram da sua presença: Ana junta-se à ação de graças e Simeão vê nesta criança a luz, capaz de a todos iluminar.

Saibamos, também nós,

agradecer todo o bem que Deus nos dá,

contagiando os outros com a nossa gratidão.